sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Aventuras de Sharpe

Design de Marcelo Martinez
Autor: Bernard Cornwell
Designer: Marcelo Martinez
Editora: Record
Ilustrações: Renato Alarcão
Fonte: Bodoni, Baskerville e Didot.
Acabamento: Verniz UV localizado, sobre a area da ilustração. Relevo sobre título e nome do autor.


Como foi o processo criativo para a primeira capa da coleção? Quais as referências que vocês usaram, o que vocês queriam evitar, o que vocês queriam tentar?
O desafio ali era criar um sistema de identidade em uma estrutura funcional, para uma série longeva. E, obviamente, respeitar os padrões gráficos já assimilados pelo público do autor nas outras capas que fizemos, como o uso de ilustrações, tipografia com forte referência histórica, vinhetas e elementos de apoio "de época".
O grande trunfo do Cornwell é seu detalhismo na reconstituição de batalhas e fatos históricos, o que atrai leitores jovens e adultos.
Então, como sempre, começamos com a pesquisa histórica, iconografia da época, etc. Eu sempre procuro referências de material gráfico, como livros, cartazes e impressos da época em geral, que é um assunto que me fascina.
Só depois é que partimos para a pesquisa de analogias mais facilmente digeríveis pelo público leitor, como a direção de arte do filme "Mestre dos Mares", por exemplo. O que quero evitar, sempre, é o padrão best-seller gringo: "Bernard Cornwel"-em-corpo-gigante-título-menor-com-texturas-clichês-e-um-capacete-no-espacinho-que-sobrar, rs (abaixo, a capa de O Ouro de Sharpe, mais recente livro da coleção).


Houve versões não aprovadas?
Não, apenas nos nossos rafes iniciais, que mudaram muito pouco durante o processo. A versão apresentada foi a aprovada (como todas as nossas capas do Cornwell, aliás. Acho q a única capa que voltou foi a primeira versão de Stonehenge, que mostrava apenas um close da textura de pedras em primeiro plano, e só revelava o monumento inteiro na quarta capa).

Quantas fontes são usadas na capa, e quais são?Somente clássicos: Bodoni, Baskerville e Didot.


Considerando que a série completa tem mais de vinte livros, como vocês trabalham com o ilustrador para diferenciar cada livro e ainda assim manter a unidade? Ou como determinam qual vai ser a cor predominante de cada edição?
A imagem principal utiliza uma paleta de cores limitada em cada volume, reforçando sua individualidade. Sempre quis o Renato Alarcão neste projeto, então, é um prazer saber que ele está conosco desde o primeiro volume, em 2005. O Alarca já faz as ilustrações na palheta de cores da vez. A gente faz apenas alguns ajustes aqui, equalizando as matizes, porém preservando os meios-tons e sutilezas da imagem. Então, a percepção do leitor acaba sendo mais na base do "esta é a capa vermelha", do que "a capa vermelho-tijolo", ou "capa vermelho sangue" . Não dá para pensar numa gradação sutil, nem em publicar numa sequência de tons, como laranja>vermelho>vinho>roxo. Tem que haver uma quebra mais clara, como >laranja>azul>vermelho>verde.


Os livros de Sharpe se distinguem também por terem o detalhe de um arabesco e uma contagem de linhas na primeira página de cada capítulo. Como surgiu a idéia?lá nas pesquisas de época. Garimpamos imagens raras de alguns impressos lindos, que utilizavam este recurso, e foi daí que defini que as capas seriam basicamente tipográficas, destacando as palavras "Conwell" e "Sharpe", compostas em tipos clássicos, também utilizados na época.


Algo mais sobre a criação dessas capas que você gostaria de acrescentar?Havia um conceito das ilustrações obedecerem um close de câmera contínuo, renovando o ciclo a cada cinco volumes. Mas como a editora precisou trocar a ordem da publicação (seria cronológica, e acabou sendo pela ordem de publicação original, pois o próprio Cornwell gosta de ir e voltar no tempo, rs), acabamos abandonando a ideia. Mas nos cinco primeiros livros vc percebe isso claramente.

Marcelo Martinez é artista gráfico, nascido no Rio de Janeiro (RJ). Em maio deste ano, foi um dos cinco designers brasileiros convidados pelo Netherlands Photo Museum, de Roterdã, Holanda, para integrar a mostra de artes visuais Brazil Contemporary, que apresentou projetos de design, videografismo e fotografia. Seu portfólio foi incluído no livro Latin American Graphic Design, editado pela Taschen Books. Teve projetos exibidos e premiados em mostras de design, ilustração e animação na Argentina, Bélgica, Brasil, China, França, México e Portugal; e publicaod em revistas como Print Magazine, Supon Books e Rockport Publishers. É membro do conselho-diretor da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil, e professor de direção de arte na Escola de Design da UniverCidade – RJ. Desenvolve projetos pessoais em animação e tipografia, e está à frente do Laboratório Secreto, estúdio de design gráfico e ilustração especializado em projetos para os mercados cultural, editorial e publicitário. Siga no twitter @martinez_m

3 comentários:

Equipe 2AB Editora disse...

Olá Samir, sou o diretor da 2AB e gostei muito desse post. Muito bacana esse trabalho de mostrar os bastidores, dificuldades e detalhes dos projetos. Sempre adorei os projetos gráficos dos livros do Bernard Cornwell feitos pelo Marcelo. Parabéns Marcelo!
Parabéns Samir!

Samir Machado disse...

Oi pessoal,

Valeu! E o trabalho do Marcelo é muito bom mesmo, sou grande fã dele.

Abraços,
Samir

Sudices disse...

Oi pessoal,
Os livros de Bernard Cornwell são fantásticos. Sou apaixonada pela forma criteriosa, detalhada e emocionante de sua escrita e saber que as caps possuem omesmo cuidado valoriza ainda mais a obra.
Parabéns!

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