quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Moby Dick

Design de Luciana Facchini


Moby Dick
Autor: Herman Melville
Designer: Luciana Facchini
Editora: Cosac & Naify
Ilustração: detalhe de gravura de Barry Moser
Fonte: Gotham
Acabamento: capa dura em serigrafia, com verniz UV sobre traço da ilustração

Ganhadora do Jabuti deste ano na categoria melhor capa, a nova edição de Moby Dick, lançada ano passado pela Cosac & Naify, buscou afastar a leitura frequente da obra como literatura infanto-juvenil e dar-lhe, visualmente, todo o peso colossal que o livro tem para a literatura de língua inglesa. A edição, que além do texto integral traz também um mapa de viagens do Pequos, ilutrações técnicas do navio e dos botes baleeiros, uma extensa fortuna crítica e bibliográfica, e detalhes de ilustrações originais de 1874 (como pode ser visto na imagem abaixo, da folha de rosto do livro). Um detalhe interessante na diagramação do miolo do livro é a opção de alinhamento da mancha, que faz o texto "flutuar" e ajustar-se à pagina como àgua - elemento-chave no design do livro como um todo, conforme a própria Luciana explica na entrevista que segue:

Como você se tornou uma designer de capas de livros?
Sempre gostei muito de ler e também de desenhar, desde criança foram dois grandes prazeres.
Quando tive que decidir a profissão, escolhi arquitetura na USP por conter em seu currículo uma formação ampla nas áreas visuais (arquitetura, paisagismo, programação visual, desenho industrial, planejamento urbano, etc.), naquela época não havia faculdade de Design como hoje em dia. A FAU também fornece uma boa base em projeto.


O que você acredita que faz de uma capa de livro uma boa capa de livro?
Acredito que uma boa interpretação do conteúdo do livro, mas não só, muitos fatores podem gerar boas capas.

Como foi o processo criativo para esta capa? Houve um direcionamento específico que levou ao resultado final? Havia alguma limitação, dificuldade ou desafio específico colocado no briefing? Como fez para superá-lo?
O Moby Dick foi muito discutido em reuniões de conceitualização do projeto.
Na editora Cosac Naify sempre pensamos o livro inteiro, isto é, o formato que melhor traduz o conteúdo, o papel, a fonte, a mancha de texto, se vamos ilustrá-lo ou não, etc. A idéia de não explorar a imagem da baleia veio nas primeiras reuniões. Existem muitas edições de Moby Dick nas quais a imagem da baleia foi exaustivamente explorada. Além disso, como é um volume com o texto integral [em muitas edições o texto é cortado, contendo apenas o percurso do baleeiro Pequod durante a vingança do Capitão Ahab], não queríamos ilustrá-lo para não parecer juvenil.
O projeto gráfico do miolo, sugere o movimento das marés: a cada capítulo a mancha foi fixada na margem inferior e, por isso, a margem das aberturas (sempre em dupla) de cada capítulo variam, dando movimento ao livro (abaixo, imagem do miolo).

Na capa eu usei fragmento de uma gravura do Barry Moser (imagem abaixo), um consagrado e notável ilustrador de Moby Dick. Dentro dessa dramática onda, inseri o título, que foi composto em uma fonte bastante arredondada e corpulenta (fonte Gotham), que faz o papel de baleia. O título sendo “engolido” pela onda é uma alusão ao desfecho da história.


Houve alguma etapa de preparação antes de começar a criar?
Sim, muitas discussões e pesquisas, por parte de todos que estavam envolvidos: editor, diretor geral, produção gráfica, produtor de imagem, equipe de design.

Qual a fonte utilizada, o que a levou a escolher essa fonte?
A fonte utilizada foi a Gotham, de Tobias Frere-Jones, por ser bastante arredondada e corpulenta, muito bem desenhada e com ótima leitura.

O que você acredita que faz essa capa funcionar, que faz ser o que é?
A imagem do mar cobrindo/engolindo o título. É o que lhe dá dramaticidade.
Luciana Facchini é designer gráfica, formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), em 2000. Trabalha na editora Cosac Naify desde 2004. Na editora desenhou livros como Moby Dick, de Herman Melville, Experiência neoconcreta, de Ferreira Gullar, Geraldo de Barros: sobras mais fotoformas, A fera na selva de Henry James, Lampião e Lancelote, de Fernando Vilela, http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/11029/Bili-com-lim%C3%A3o-verde-na-m%C3%A3o.aspx, de Décio Pignatari, Conto para crianças impossíveis, de Jacques Prevêrt, além de coleções como Mulheres Modernistas e coleção Paulo Emílio. Desde 2007 coordena a parte de criação gráfica da área infanto-juvenil. Teve trabalhos expostos na 7a, 8a e 9a Bienais de Design Gráfico da Associação de Designers Gráficos do Brasil. Ganhou prêmios pelos livros Lampião e Lancelote (3º lugar em capa - 49º Prêmio Jabuti, 2007) e Fera na selva (2º lugar em projeto gráfico – 50º Prêmio Jabuti, 2008) e em 2009, primeiro lugar em projeto de capa pelo livro Moby Dick (51º Prêmio Jabuti, 2009). Em 2008, o livro Experiência Neoconcreta foi selecionado pelo American Institute of Graphic Arts para a exposição 50 Books/50 Covers of 2007, em Nova York. Ganhou o Prêmio TIM (2008) pelo projeto gráfico do CD “Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar” do artista Siba.

3 comentários:

Rafael Marchesin disse...

Realmente ficou muito boa essa capa! Eu já havia visto quanto busquei os resultados do Prêmio Jabuti, mas, agora, vê-la com as palavras da criadora foi sensacional! Parabéns à Luciana Facchini! E, claro, ao Samir, que teve a iniciativa de colocar esse fantástico post aqui no blog!

sophia disse...

não entendi exatamente na época, também não entendi de novo agora. como assim a mancha foi fixada na margem inferior e varia?

Samir Machado disse...

Oi Sofia,

É como se o texto fosse àgua, e as duas páginas fossem dois vasilhames interligados - quando o texto é colocado na folha, ele se "nivela'. Ou seja, nos capítulos muito curtos (e o livro tem vários), os dois blocos de texto ficam sempre alinhados, ao contrário de um livro convencional, onde o texto começaria sempre na mesma altura e, quando chegasse ao fim na última página de cada capítulo, ficaria no topo da folha deixando um espaço em branco ambaixo.

Parece ocmplicado de explicar mas é uma solução bem simples e bacana. Sugiro que dê uma procurada pelo livro em alguma livraria e folheie, que visualmente é mais simples de entender.

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