terça-feira, 22 de novembro de 2011

Coleção Bom Livro

Design de Fabrício Waltrick e Luiz Domingues

Onipresente nas bibliotecas de escolas há mais de 40 anos, a coleção Bom Livro da editora Ática ganhou em 2008 sua quarta reformulação gráfica. Segundo Fabrício Waltrick, editor de literatura juvenil da Ática e responsável pela reformulação tanto dessa coleção quanto da Eu Leio, a fase mais emblemática foi a da "capa preta" nos anos oitenta. Nos anos noventa, a Bom Livro entrou na fase junto com quase todo o catálogo da Ática na sua fase "capa branca". Com a reforma ortográfica de 2008, a editora viu a necessidade de reeditar todo seu catálogo.

"A maior parte dos livros foi editorada há muito tempo, não tínhamos mais os arquivos. Os livros precisariam ser digitalizados de qualquer modo para a ortografia ser atualizada. Mas tínhamos um problema: a edição dos livros era ótima, mas o projeto gráfico incomodava. As capas tinham ilustrações em um estilo ultrapassado (ainda que eu admire muito esse trabalho e os artistas que o fizeram, como o Jayme Leão); no miolo, a tipologia era condensada. Isso dificultava a leitura."




Um segundo motivo foi a análise de que os clássicos de literatura brasileira, além de terem capas e projetos gráficos maltratados, as vezes precários e feios, tinham um apelo visual muito limitado ao público infanto-juvenil escolar, quando deveriam ter um apelo mais amplo. Por exemplo, uma obra como Dom Casmurro, leitura obrigatória em qualquer colégio mas que, segundo Fabrício, se torna mais relevante depois dos 30 do que antes dos 15, precisava manter o apelo com o público leitor adulto, e não havia motivos para manterem um direcionamento editorial voltado somente para as escolas. E disso, surgiu a idéia de se utilizar arte brasileira contemporânea na capa.

"O pensamento era continuar fazendo edições econômicas, mas com bom design. Isso tornaria o livro mais “pop”, evitando uma ligação imediata a um determinado público. Esse caminho também valorizaria o clássico, defendendo sua permanência, ao apresentá-lo pelos olhos de hoje. A arte brasileira contemporânea está em um processo de descoberta e valorização. Ao estabelecer esse diálogo entre artes plásticas e literatura estamos brincando com os sentidos que uma arte apropria da outra. Por exemplo, quando usamos uma instalação de Regina Silveira para ser capa de O cortiço, acabamos propiciando uma troca: a obra de Regina ganha ali uma aura de clássico, enquanto a obra de Aluísio Azevedo toma emprestado o caráter contemporâneo", diz Fabrício.






Numa primeira olhada, a estrutura da capa parece receber uma influência direta do estilo da Penguin Modern Classics, com a ilustração livre de interferências, e a informação alinhada dentro de uma base. Perguntei ao Fabrício sobre essa influência: "claro que somos fãs do trabalho da Penguin, quem pode ignorar o que eles fizeram pelo design editorial? Não dá para sair imune", disse ele. "Mas não foi só essa influência. Na época outro estopim para pensar nesse projeto assim foi uma coleção infantojuvenil da Berlendis & Vertecchia, que trazia obras de arte brasileira contemporânea ilustrando narrativas criadas a partir delas. Ainda comparando com a Penguin, o que diferenciava a proposta era a conversa entre antigo/contemporâneo. A Modern Classics trazia arte e literatura produzidas, de certo modo, em épocas próximas. Mas o que quisemos foi expandir essa distância para ressaltar a questão do poder da permanência de um clássico. Assim, por exemplo, uma obra de Adriana Varejão de 1995 está ilustrando a capa de Auto da barca do inferno, um livro do século 16.





A escolha das obras que ilustram cada livro é feita internamente na editora. Segundo Fabrício, a busca por consultores de arte acabou não funcionando, na maioria das vezes porque mesmo se escolhendo obras muito relevantes de artistas importantes e promissores (e em perfeito diálogo com os livros), nem sempre essas escolhas rendiam boas capas. "Há muitas obras maravilhosas que simplesmente não funcionam no projeto. Ainda que a obra tenha uma área livre grande, há algumas limitações, como o formato e o enquadramento. Por isso acabamos tomando a responsabilidade da escolha."

Como se pode ver, não há limitações de linguagem, utilizando-se de pintura, escultura, instalações, fotografia e arte digital. Em alguns casos, o diálogo com o livro não fica restrito à obra, mas à vida do artista também, como no caso da capa de O Alienista, de Machado de Assis, ilustrada com uma obra do artista plástico carioca Arthur Bispo do Rosário, ele próprio considerado louco. "Para a capa, acabamos escolhendo uma farda bordada por ele, porque além da loucura (que se vislumbra na própria estampa), a vestimenta remete diretamente a autoritarismo, outro tema do livro".




Por último, o miolo: o alvo e fustigante papel offset foi trocado pelo pólen soft, que proporciona uma leitura mais confortável, e as fontes utilizadas no miolo são a Joana e a Interstate. No final de cada livro, há um bônus: uma sessão comentando o diálogo entre a obra escolhida para a capa e a o livro em si, além de detalhes técnicos da obra, fazendo uma aproximação bacana entre literatura e artes plásticas (clique nas imagens para ampliar).




Quem quiser saber mais sobre os livros, as obras que ilustram cada um e os artistas que as criaram, pode encontrar as informações no site da coleção, em www.atica.com.br/bomlivro

10 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela iniciativa, a coleção ficou linda! E, por sua importância, é mais do que merecido!

Anônimo disse...

Eu detestei! Se já era difícil conquistar leitores nas escolas (alvo da coleção) com aquelas capas mais figurativas, imagine com essas novas, intectualoides! A Ática tem feito reformulações cada vez mais esdrúxulas nos últimos tempos. A série Sinal Aberto também perdeu o seu perfil diversificado com isso. Horríveis, essas capas!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Caramba! Capas "intelectualoides"? Triste comentário...

Anônimo disse...

Horríveis as capas novas ! Intelectualóides sim , e feias demais ! É pra afugentar os leitores mais rápido ! Feias demais ! Saudades das capas dos anos 80 !

Patrickcdz disse...

Concordo plenamente em relação as capas!! Estou cursando Letras, e precisei comprar a maioria desses livros da coleção, porém fui buscar em sebos as versões antigas brancas, e até mesmo as pretas da década de 80.
Mesmo já conhecendo as obras, as capas com ilustrações referentes a obra são muito mais vistosas, afinal tudo que é chamado de "coleção", além do conteúdo, também é muito importante a estética e padrão. Infelizmente essa nova edição não me agradou em nada. =/

Anônimo disse...

Ficaram otimas. Realmente era necessario repaginar o visual.

Lavi disse...

Também não gostei das capas novas. Concordo que era preciso reformular as edições, mas para mim, as capas brancas sempre chamaram a atenção, sempre achei lindas as ilustrações, sem essa de " apelo visual muito limitado ao público infanto-juvenil escolar".

Márcia disse...

Não gostei nem um pouco dessas novas capas. Sou fissurada pela coleção capa branca, aliás foi com ela que aprendi a amar a literatura. Estou montando minha coleção de todas as obras da série em sebos. Já consegui 40 títulos

Colecionador de Livros e CDs disse...

entrei no túnel do tempo e reencontrei as edições capa preta que, na minha visão, tornaram-se sofisticadas. Quem dera se a Editora Ática atualizasse essa edição, mantendo a Apresentação e também o Suplemento original. Estou relendo as edições que tenho em casa e, apesar de ter um farto material disponível na internet, é sempre muito bom ter um livro sem precisar procurar resenhas online. Atualmente, livros de literatura capa dura perdem muito por não terem nenhum material suplementar que possa entreter e aprofundar a leitura.

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