terça-feira, 28 de outubro de 2014

Jurassic Park, por Chip Kidd

Na semana passada, a editora Aleph anunciou a aquisição dos direitos de publicação no Brasil de Jurassic Park, de Michael Crichton (publicado anteriormente no Brasil como "Parque dos Dinossauros".O livro está previsto para ser lançado no segundo semestre de 2015 e, enquanto não chega (e no aguardo de como será o projeto gráfico), aproveitamos a oportunidade para reproduzir aqui trechos do livro Chip Kidd: Book One: Work: 1986-2006, em que o o designer norte-americano Chip Kidd descreve a evolução da idéia para uma de suas capas mais famosas, e uma das imagens mais icônicas dos anos noventa.

“Lembre do que aconteceu com ‘Tubarão’”, disse o editor da Knopf, quando brifou Chip Kidd para a capa do novo livro de Michael Crichton. Ele se referia ao design da capa original do livro de Peter Benchley, criado pelo designer Paul Bacon, que acabou servindo de base para o cartaz do filme, que por sua vez se tornou um ícone pop. O que ficou implícito é que Kidd estava desafiado a criar algo igualmente icônico.

Kidd com o seu esboço original.
A primeira idéia, criada pela designer Carol Carson, foi usar uma capa com a pintura encomendada, da simulação da pele de dinossauros. Contudo, “jurássico” não era uma palavra com que o público estivesse familiar, e ninguém fazia idéia de como deveria ser a pele de um dinossauro, de modo que o título enigmático ─ “parque jurássico” ─ com uma capa abstrata deixaria confuso para o leitor/consumidor.

The Gift Edition: a primeira edição, com tiragem limitada autografada pelo autor, trazia uma sobrecapa em acetato.

Kidd concluiu que precisava usar um dinossauro na capa, mas de um modo que não parecesse um livro pulp. Precisava mostrar sem mostrar, e de modo que fosse cientificamente acurado, condizente com a proposta do livro de Crichton. Então Kidd imprimiu o diagrama de um esqueleto de dinossauro, cobriu uma folha de papel acetato e desenhou com um caneta nanquim, escurecendo algumas partes para criar um efeito que simulasse um raio-x invertido.

Capa da primeira edição hardcover

“Não me lembro porque coloquei um efeito drop-shadow no nome de Michael. Suponho que para dar peso. Não sou fã de fontes sombreadas em geral e só uso quando há uma questão de legibilidade. O que não é o caso aqui”. O drop-shadow a que Kidd se refere só foi utilizado na versão hardcover comum.

A edição especial de colecionador, cuja tiragem foi inteiramente autografada por Michael Crichton (e que o dono deste blog se orgulha de ter um na estante) usa o esqueleto impresso em uma sobrecapa de acetato. “Gosto principalmente da lombada nesta versão, com as costelas cutucando o nome de Michael, além da versão jurássica do logo da editora”, diz Kidd. A edição também traz uma série de ilustrações dos dinossauros citados no livro.

A capa da Gift Edition da primeira edição, com sobrecapa em acetato
Segundo o próprio Michael Crichton: “A capa passou por mais variações que qualquer outra (de um livro meu). Todos concordaram que o enfoque gráfico deveria ser oblíquo, mas isso se provou mais fácil de dizer do que fazer. (...) Sombras de dinossauros, pegadas de dinossauros, escamas e rabos, silhuetas e olhos reptilianos espiando no meio de folhas na selva. Com o passar do tempo, começamos a entender que encontrar uma imagem ameaçadora que também sugerisse dinossauros geneticamente criados era impossível. Estávamos pedindo demais de uma única imagem. Eu não achei que usar esqueletos fosse funcionar, e de todo modo, esqueletos fugiam do ponto. O ponto era que estavam vivos. Alguns dias depois, estavam me mandando mais uma capa. ‘Acho que você vai gostar dessa’. E é claro que eu gostei. Todo mundo gostou. Condensar tanto significado em uma imagem simples foi realmente extraordinário”.

A capa da Gift Edition aberta, com a sobrecapa de acetato sobreposta.
Alguns meses após a publicação, os estúdios Universal entraram em contato com a editora visando comprar os direitos de imagem do design do esqueleto ─ por um valor que se revelou, claro, uma fração do valor que adquiriu, ao ser não só usado como o cartaz do filme, mas incorporado dentro do filme como a marca do parque, tornando-se um dos logos mais conhecidos dos anos noventa.

A arte oficial do filme, criada pelo lendário cartazista Drew Struzan, incorporou o design criado por Kidd.
No Brasil, o livro foi publicado em 1993 sob o título Parque dos Dinossauros pela editora Best-Seller, com uma edição paralela pelo Círculo do Livro. Ambas as capas incorporaram a arte de Kidd sobrepostas à outros elementos. A edição da Best-Seller remete aos elementos de informática constantemente citados no livro, e a do Círculo do Livro, parece remeter à uma certa "tropicalidade" da ilha.

Edição da Best-Seller (à esquerda) e do Círculo do Livro (à direita).
Agora, é aguardar até o segundo semestre para ver como será a nova edição publicada pela Aleph. A julgar por suas publicações recentes, vem coisa boa por aí.


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