segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Z - A Cidade Perdida

Design de Christiano Menezes



Z - A Cidade Perdida
Autor: David Grann
Designer: Cristiano Menezes
Editora: Companhia das Letras
Fonte: Steak e Rockwell
Acabamento: verniz UV sobre imagem da letra Z e insetos ao redor

A capa de Z-A Cidade Perdida, me chamou a atenção direto na prateleira. O livro do jornalista David Grann reconstitui as expedições do coronel Fawcett pela Amazônia em busca do El Dorado. A primeira coisa que me ocorreu é que parece uma capa atípica pra Cia. das Letras, que geralmente usa soluções mais sóbrias, e mais próxima do estilo de capas da Record, que geralmente usa soluções mais dramáticas como se remetessem à cartazes de cinema (curiosamente, o livro estava ao lado de O Jardim de Darwin, publicado pela Record, e que tem, justamente, uma capa mais sóbria, ao estilo da Cia. das Letras). A primeira vista, os detalhes da capa de Z-A Cidade Perdida me remeteram ao cartaz de O Mundo Perdido, do Spielberg, em que o elemento central está envolto por uma moldura de plantas que escondem pequenas "ameaças" nos detalhes (na forma de pequenos insetos). Até segurei o impulso de comprar o livro na hora - que geralmente me ocorre quando conteúdo e capa batem totalmente com meus gostos pessoais - mas não me contive e acabei comprando no dia seguinte. Abaixo, segue a entrevista com o designer Christiano Menezes, do estúdio Retina_78, responsável pela capa do livro.


Como você se tornou um designer de capas de livros?
Eu sempre gostei muito de ler. Muito mesmo. E na minha opinião, para se envolver e criar a capa de um livro, antes de tudo,
você tem que ser um leitor. Sinto que meu trabalho sempre esteve mais ligado as palavras do que das imagens. Gosto desse ponto de partida.

O que você acredita que faz de uma capa de livro uma boa capa de livro?
Acho que é criar uma atração quase irresistível para descobrir o conteúdo. Penso em quem compraria aquele livro e também em quem não compraria. (rs)
Gerar um interesse, uma curiosidade. Não excluir. E acima de tudo, respeitar o texto. Respeitar e surpreender ao mesmo tempo. Sem induzir uma estética.
Talvez dando um elemento, uma semente para a pessoa viajar no clima da história.

Como foi o processo criativo para esta capa? Houve um direcionamento específico que levou ao resultado final?
Havia alguma limitação, dificuldade ou desafio específico colocado no briefing? Como fez para superá-lo?
Normalmente tem um direcionamento e uma limitação, mas isso não me incomoda. As limitações fazem você buscar novos caminhos. Enquanto estava ao telefone ouvindo o briefing, já estava rabiscando e visualizando a idéia.


Houve alguma etapa de preparação antes de começar a criar?
A etapa de preparação foi um pouco complexa e trabalhosa. Mas muito interessante também. A gente acaba até aprendendo um pouco sobre botânica. (rs). Quis pesquisar a vegetação nativa de onde se passa a história e levou um tempo para coletar esse material. Fotografei muita coisa também e o processo de construção da imagem foi elaborado. A imagem é bastante detalhada e cheia de camadas.

Você trabalha em colaboração com outra pessoa, tipo ilustrador? Como se dá o processo?
Nesse caso não. Gosto de construir as imagens. E ilustrar também. Ilustrar é quase meu primeiro idioma.
Gosto de trocar e agregar. Trabalho com fotógrafos, designers e ilustradores também, mas o processo das capas, geralmente é bem solitário.

Qual a fonte utilizada, o que o levou a escolher essa fonte?
Usei a “steak” para a construção do Z e a “rockwell”. Queria fontes encorpadas e com uma certa personalidade.

O que você diria ser o que faz essa capa funcionar, o que faz dela ser o que é?
Acho que ela tem um tom de mistério e aventura... E um certo sufocamento que traduz a sensação principal do livro.

Alguma coisa a mais que gostaria de acrescentar sobre o processo de criar capa?
Soa um pouco estranho pra mim “criar capas”. Associo com “criar galinhas” ou outra coisa parecida. (rs) Eu me sinto muito mais nesse caso, um “tradutor visual”. E eu sempre leio o livro para “traduzir” a capa da melhor maneira. Sempre. Mesmo que não me agrade, leio a maior parte para compreender a atmosfera. Na verdade, eu quero que o trabalho se destaque nas livrarias, mas não quero que o meu trabalho prevaleça sobre o texto.
Acho que isso é respeito. Respeito e carinho pelas letras.

Christiano Menezes é designer, ilustrador e fotógrafo. Um dos sócios do estúdio de design Retina 78, fez capas de livros para diversas editoras, como Companhia das Letras, Ediouro e Agir, e projetos gráficos de capas de CDS e dvds. Entre seus trabalhos, estão as capas dos livros Até o dia em que o cão morreu e Cordilheira, de Daniel Galera, O Almoço Nu, de William Burroughs e os livros de Stieg Larson, bem como o cd dos Detonautas, a coleção Ecopac, e dvds e materiais promocionais da minissérie Capitu. Fez também editoriais para revistas como a Vogue, Trip, S/N, e direção de arte para o canal Multishow.

Um comentário:

Rafael Marchesin disse...

Essa capa também já havia me parado numa prateleira há algum tempo atrás! Realmente é uma belíssima capa! Ela fez exatamente o trabalho que deveria fazer o de me instigar a ler o livro! O designer Christiano Menezes está de parabéns com essa capa!
Uma coisa surpreendente quanto às capas da Cia. das Letras é que são todas maravilhosas, quase todas me instigam a comprar os livros, se não os compro, fico desejando-os por muito tempo! Percebi, sim, o que disse, Samir, sobre a capa lembrar uma solução menos sóbria, parece muito um cartaz de cinema, não? Mas ainda vejo um estico Cia. das Letras nela. Ah, quanto ao “O mundo perdido”, me lembrei do livro do Conan Doyle, inclusive, vi num sebo, uma capa desse livro que havia sido criada com um estilo próximo à capa do Christiano.
Grandes abraços, Samir!
Ah, quem sabe você não consegue uma entrevista com o criador da capa de Neve, de Orhan Pamuk, também da Cia. das Letras? Esse livro me instigou muito a comprá-lo por causa da capa.

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