quarta-feira, 14 de julho de 2010

O Vidiota

Design por Estúdio Insólito


O vidiota
Autor: Jerzy Kosinsky
Designer: Lauro Machado, Jamil Li Causi (Estúdio Insólito) e Rafael Saraiva (Ediouro)
Editora: Ediouro
Fonte: FF Din

A capa de O Vidiota me chamou a atenção de imediato na livraria, justamente pela peculiaridade de não ter nenhuma informação na capa sobre o título ou o nome do autor - coisa pouco comum no mercado brasileiro, embora não faltem exemplos de belíssimos trabalhos assim em editoras estrangeiras (uma observação pessoal: essa capa foi minha principal referência e argumento na Não Editora, na hora de defender que a capa deO professor de botânica não tivesse nada escrito). Pra quem não fez a associação ainda, esse livro (no original, Being There) já foi adaptado para o cinema com Peter Sellers no papel principal, sob o título Muito além do Jardim.


Abaixo, uma rápida entrevista com Lauro Machado, do Estúdio Insólito, sobre o processo de criação do design dessa capa.

O que você acredita que faz de uma capa de livro uma boa capa de livro?
Isso varia muito, porque não existe fórmula. temos que saber relativizar, pois a abordagem visual depende muito do nicho de mercado do livro. mas fora isso, um bom trabalho tipográfico é fundamental, seja ele mais inovador ou conservador – a não ser que se faça uma capa sem título. =)

Como foi o processo criativo para essa capa? Houve um direcionamento específico que levou ao resultado final (considerando que o livro já foi adaptado no cinema)? Havia alguma limitação, dificuldade ou desafio específico colocado no briefing?
Nesse caso a principal dificuldade estava na falta de posicionamento da editora em relação ao livro, gerando um processo de tentativa e erro. pelo lado bom isso nos deu a liberdade de tentar uma solução mais inusitada, e acabamos sendo surpreendidos com a aprovação da opção. De uma maneira geral procuramos dar um tom mais contemporâneo ao livro, em alguns estudos usamos a figura do protagonista com a bengala e o chapéu, que remete ao filme, em outros focamos na tv e por fim, a partir de uma passagem do livro, tivemos a ideia do confinamento, da alienação, como se ele residisse dentro da tv.


E a imagem da capa, qual a origem dela?
Foi retirada de um filme, é um detalhe de uma cena e por isso tivemos que contratar um fotógrafo para captar a imagem em alta resolução e assim manter a textura da tela bem nítida.

Qual a fonte utilizada para o título na contracapa, e porquê a escolha daquela fonte específica em relação à arte?
Escolhemos a ff din condensed porque queríamos uma fonte limpa e com bastante impacto visual para dar personalidade à quarta capa. uma fonte com desenho mais extendido resultaria num corpo menor e menos impactante.


É bastante incomum uma capa de livro que não leva nem título nem nome do autor na capa, no mercado brasileiro. Qual a tua opinião sobre isso, seria medo de correr riscos? O impacto visual da capa na prateleira anularia esse risco?
Com esse livro aconteceu algo peculiar. apesar do grande apelo visual e de sempre ter a capa elogiada em algumas das livrarias ele era colocado "de costas" com a quarta capa, onde está o título, para frente. isso é reflexo de um mercado e uma cultura visual ainda em desenvolvimento. e com um mercado consumidor ainda pequeno, as editoras, em sua maioria, tendem a ser um pouco mais conservadoras se atendo à premissas nem sempre verdadeiras.

Formado pelos designers Jamil Li Causi e Lauro Machado, o Estúdio Insólito atua em projetos de identidade visual, institucionais e de ilustração para os mais variados clientes e segmentos. No mercado editorial, desenvolve capas e projetos de gráficos para as editoras Record, Ediouro, Agir, Objetiva e Senac Rio, entre outras. Entre os seus trabalhos estão "O trem de ouro", de Miroslaw M. Bujko, "China S.A", de Ted C. Fishman e "Nao Hara, culinária japonesa, sabores tropicais", finalista do gourmand world cookbook award na categoria melhor capa.

3 comentários:

RB disse...

a capa de Lolita, da Cia., tb não tem texto.

excelente tema e entrevista!

abraço

RB

Samir Machado disse...

Oi RB,

Mas essa capa vinha com uma meia-sobrecapa contendo o título e o nome do autor. Além do mais, foi feita pelo próprio Chip Kidd para a Cia. das Letras, e imagino que o peso do nome do designer deve ter feito a diferença na aprovação. Além do mais, é característico da Cia. das Letras assumir riscos de projetos mais ousados, graficamente.

Dani Rachid disse...

Me indicaram o teu blog, um publicitário como eu, daqui de Belém, e devo dizer que adorei (até para incentivar o trabalho que dá, né?). Parabéns!

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