segunda-feira, 17 de julho de 2017

Invisível

Design por Tulio Cerquize


Invisível
Autor: David Levithan e Andrea Cremer
Projeto Gráfico: Tulio Cerquize
Acabamento: verniz
Editora: Galera Record


Lançado no Brasil em 2014, o romance young adult Invisível, escrito a quatro mãos por David Levithan e Andre Cremer, tem a premissa interessante (e complicada, do poto de vista do capista) de um protagonista que é, literalmente, invisível, vivendo numa das maiores cidades do mundo, Nova York. O resultado da capa é engenhoso e simbólico, o personagem representado apenas por uma aplicação de verniz. Na quarta capa, o processo é invertido, mostrando o ponto de vista da única garota que consegue enxergá-lo. Outro detalhe interessante é que todos os textos de capa, contracapa e orelha foram feitos à mão. Um exemplo de boa aplicação do verniz, de um modo que se conecta diretamente com o conceito, e não somente pelo efeito. Abaixo, uma entrevista com o designer Túlio Cerquize, responsável pela capa.


Como foi o processo para chegar ao resultado dessa capa? Qual dificuldade surgiu no caminho?
A primeira coisa em que pensei quando me passaram o briefing do livro foi, "legal, vou fazer uma capa ilustrada!". Um young adult com dois autores bem conhecidos no gênero, um prato cheio. Ele era recheado por uma linguagem jovem, cultura pop, quadrinhos... foi daí que parti. Acho importante esta parte, porque descobri o que não fazer, hahaha! A premissa dele também era muito poética e reflexiva e isto me fez perceber que com aquele tipo de ilustração figurativa que eu estava desenvolvendo não iria conseguir o que queria. Estava muito artificial, contrastando com o lettering solto e irreverente.

Quase como um estalo me veio a ideia das pinceladas. Elas casavam bem com o título, eram pregnantes e passavam com mais facilidade a minha mensagem. Então transpus para uma linguagem mais gráfica tudo que eu havia pensado antes, com o ponto principal (representando o protagonista) quase desaparecendo no verniz localizado. O resultado final foi bem satisfatório!

Qual a ideia por trás do conceito aplicado, e como a capa e a contracapa se relacionam?
Eu queria transmitir a solidão do protagonista. Ele é de Nova York, uma das metrópoles mais populosas do mundo, porém com um 'probleminha': é invisível desde que nasceu. Com a morte da mãe, a única a saber de sua existência, o garoto não consegue mais se comunicar com ninguém pessoalmente e começa apenas a observar as pessoas. A capa é isso, um ponto invisível no meio de tantos outros. A contracapa foi o processo inverso, já que no meio na trama aparece uma garota, que é a primeira pessoa em toda sua vida a conseguir enxerga-lo. Logo, o foco passa a ser aquele ponto que não era notado na capa.

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Como foram produzidos os textos para capa e contracapa?
Com pincel, nanquim e caneta Pilot. Busquei uma linguagem próxima às rasuras de adolescentes que são feitas em cadernos e carteiras escolares, escritas com corretivo ou qualquer recurso disponível.

O que você acha faz uma boa capa de livro ser boa?
Acho que depende da linha editorial. Há capas que ganham mais no quesito conceitual, já outras no quesito estético. Pessoalmente, eu prezo muito pelo equilíbrio. O mais importante é que o designer saiba usar os recursos disponíveis para que o livro consiga captar a atenção do público alvo, passando a mensagem certa.
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Como você começou a trabalhar com design editorial?
Subconscientemente, quando eu tinha dez anos. Hahaha, brincadeira! Fiz a ilustração para a capa de um livro do meu pai nesta época e foi muito bacana, este foi meu primeiro contato. Claro que ter um pai escritor e uma mãe professora me influenciou muito. Depois de uma frustrada faculdade de informática, fui fazer design já decidido a trabalhar no ramo cultural. Na faculdade, corri bastante atrás de editoras cariocas e oportunidades na área, até que em 2011 surgiu a oportunidade de estagiar para a Record. Tive muita sorte, porque além de tudo tive como professores três dos melhores capistas do país (Leonardo Iaccarino, Diana Cordeiro e Elmo Rosa). Toda esta trajetória me fez amar e seguir amando o ofício.

Túlio Cerquize, 29, nasceu no Rio de Janeiro e é designer pela UFRJ. Trabalha desde 2011 com capas de livros e tem um tumblr para capas aprovadas e outra para reprovadas. Atualmente está no departamento de design do Grupo Editorial Record.

3 comentários:

Leonardo Iaccarino disse...

Trabalho sensacional, primoroso. Conceitualmente e graficamente. Boa Tulito!

Tarso disse...

Mandou bem tulio. Linda capa rapaz!

Anônimo disse...

Muito Bom!

Felipe Cerquize

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