sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Odisséia

Design de Gabriela Castro e Elaine Ramos



Odisséia
Autor: Homero
Designers: Gabriela Castro e Elaine Ramos
Editora: Cosac Naify
Capas da edição especial e edição comercial (clique para ampliar).
Edições da Odisséia, no Brasil, houve muitas; mas nenhuma teve o impacto visual que a edição da Cosac Naify lançou em junho do ano passado. A imponência grandiosa que esta edição agrega ao livro é tal que complementa o próprio aspecto épico do poema de Homero (fazendo desta edição, como apontou a revista Brasileiros, uma "edição épica" em si). Aliando arte e literatura, fazendo do livro enquanto objeto físico uma obra de arte em si, é seguramente um dos livros mais belos que já tive a oportunidade de ter em mãos, da encadernação ao papel à cada mínima escolha de design ou de produção, unindo o trabalho das designers Elaine Ramos e Gabriela Castro aos do artista plástico Odires Mlászho. Abaixo, uma entrevista com a designer Gabriela Castro, da Cosac Naify, co-autora do projeto gráfico junto com Elaine Ramos, falando sobre o processo criativo desse trabalho.
Desdobrando a sobrecapa
Como você se tornou designer de livros?
Quando optei pela faculdade de design gráfico, já tinha um grande interesse em trabalhar com livros. Anos depois, entrei na Cosac Naify na área de marketing, produzindo os materiais de divulgação dos livros. Após três anos, comecei a trabalhar projetando os livros como assistente da Elaine Ramos.
Guardas da edição especial


Guardas da edição comercial
O que você acredita que faz de uma capa de livro uma boa capa de livro?
Uma boa capa de livro deve traduzir seu conteúdo e tornar o objeto livro atraente – além disso deve dialogar com o projeto gráfico como um todo reforçando a experiência da leitura.
Como foi o processo criativo desse livro? Qual a maior dificuldade em pensar duas versões do mesmo livro (a edição especial ea comercial)?
Esse projeto surgiu com a ideia de ser um livro de destaque da editora, que faríamos um casamento entre arte e literatura, caminho que a Cosac Naify já vem seguindo há algum tempo, como por exemplo: Primeiro amor com a artista plástica Célia Euvaldo, Alice no país das maravilhas com Luiz Zerbini e Decameron com ilustrações de Alex Cerveny. Decidimos propor o projeto ao artista plástico Odires Mlászho. Sua obra tem uma forte relação com o universo dos livros, com a ideia de acumulação cultural que eles representam, trabalhando sempre com colagens, múltiplas camadas, adensamentos, características que teriam um diálogo interessante com o texto da Odisseia, que atravessou toda a história do ocidente, sendo traduzido e editado inúmeras vezes.
Elaine e eu lemos o clássico e desenvolvemos o projeto gráfico, desde a escolha da fonte e cor até como entrariam as colagens, cada uma referente a um dos cantos, nas duas edições: da especial com as pranchas e da edição comercial com colagens apenas na capa e guardas.
Quais as dificuldades encontradas no processo (e como foram resolvidas)?
A dificuldade é fazer com que o projeto gráfico traduza visualmente o conteúdo e que o objeto funcione em todos os aspectos: forma, peso e volume.
E, é claro, o difícil é torná-lo viável financeiramente. Nesse caso, ter duas edições ajuda na viabilidade do projeto já que as duas compartilham o mesmo miolo. No entanto, tivemos que fazer a opção das colagens entrarem apenas na edição especial para conseguirmos reproduzi-las com qualidade e mais fiéis ao original.
Houve alguma etapa de preparação antes de começar o trabalho em si?
Foi um processo muito bacana para mim: tivemos a primeira conversa no início do ano e desde então realizamos encontros semanais nos quais discutíamos o processo e a técnica que seria utilizada para o livro. Foram quatro meses de trabalho conjunto.

lombada da edição especial
lombada da edição comercial
O que você diria que faz com que essas capas funcionem, que faz com que sejam o que são?
Acho que conseguimos criar capas fortes com a relação entre a tipografia, o "O" e o "H" quase como um selo e as colagens de Odires. Na capa da edição comercial isso fica muito mais em evidência e ganha força; na capa da edição especial, a sobrecapa com mais duas colagens e hot stamping também se destaca.

Verso das duas edições
Gabriela Castro é designer formada pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Trabalha na Cosac Naify há sete anos e é uma das integrantes do estúdio Bloco gráfico. Ganhou o Prêmio Aloísio Magalhães oferecido pela Fundação Biblioteca Nacional de melhor projeto gráfico de 2011 com o livro Apreensões, de Bob Wolfenson. Teve trabalhos selecionados para a 10ª e 11ª Bienal Brasileira de Design Gráfico da ADG e, em 2014, a capa que criou para o livro Avenida Niévski, em parceria com Elaine Ramos, foi eleita a melhor da categoria no I Premio Latino americano de Design Editorial.


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Jurassic Park

Design de Pedro Inoue


Jurassic Park
Autor: Michael Crichton
Designer: Pedro Inoue (capa), Design Editorial (miolo)
Editora: Aleph
Fonte: exclusiva

Além de ser um clássico moderno da literatura de ficção científica, o livro Jurassic Park tem também uma das capas mais icônicas de todos os tempos, a marca do esqueleto de tiranossauro criada pelo designer Chip Kidd (do qual falamos aqui), tornada onipresente nas adaptações para o cinema da obra de Michael Crichton. Repensar uma obra tão icônica foi o desafio do designer Pedro Inoue, com a edição especial lançada esse ano pela editora Aleph.


Como você se tornou designer de livros?
Pedro Inoue: Por acaso. Eu conheci o Adriano Piazzi em 2012 e ele me chamou para criar uma série de capas para o Philip K. Dick e a edição de 50 anos de Laranja Mecânica do Burgess. Antes disso tive algumas oportunidades de criar capas para alguns autores que admiro muito, como Noam Chomsky e Frantz Fanon, porém nunca quis seguir uma ‘carreira’ como designer de livros.
Eu tenho uma maneira de trabalhar muito peculiar e para fazer um bom trabalho é preciso ter um certo grau de admiração com os autores. Fazer capas é um trabalho bem difícil. É uma peça única que tem ser balanceada artisticamente e comercialmente. Hoje em dia, clientes com um pouco mais de visão, deixam o designer ter mais liberdade para criar, abafando o que o marketing dita. Isso abre diversos caminhos novos, criando peças mais ousadas e inovadoras.

Página de abertura
O que você acredita que faz de uma capa uma boa capa?
PI: Atualmente, contexto. Uma boa ideia é sempre bem vinda, porém acho aquela capa ‘sacada’ muito publicitária, muito rasa. Isso funciona para alguns casos, mas atualmente, criar processos que lidam com o contexto e universo do livro são muito mais interessantes. Uma leitura do universo que engloba a complexidade da história cria resultados muito mais ricos. A formula que a gente vê em diversos casos, geralmente ditada pelo comercial, esta muito desgastada.

Divisórias
No caso de Jurassic Park, sendo uma marca tão icônica e já tão explorada visualmente, como foi o desafio de buscar uma nova abordagem?
PI: Foi fácil e difícil. Criar algo em cima de um universo tão rico é muito divertido e leve. Porém, quando se procura inovar, qualquer expansão precisa ser feita de maneira delicada.
O esqueleto criado por Chip Kidd para o livro já tinha uma direção muito bem resolvida. O filme aprofundou essa direção e conceito, fazendo do universo gráfico algo super delineado.
O que tinha em mente era modernizar esse universo, utilizando uma tipografia nova e uma ilustração que partisse desse universo porém expandindo ele. Tendo dito isso, manter o esqueleto do T-rex foi praticamente inevitável. Tentei procurar outros caminhos, mas nesse caso a releitura foi muito mais direta e perfeita para esse caso.

Esboços para a capa
Como se deu a escolha da fonte utilizada na capa?
PI: A fonte da capa é exclusiva e foi desenhada para o projeto. Para sua finalização, quis manter referências bem sutis a tipografia do logo do filme.
Tipografia para mim é uma das características mais importantes do meu trabalho (talvez seja a maior). Eu trabalhei muito tempo na Barnbrook design em Londres, onde aprendi muito do que sei sobre fontes e tipos. Acredito que usar fontes existentes para certos trabalhos, principalmente fontes de título, é algo que se deve evitar. Um alfabeto foi criado a partir de uma ideia, de um espírito - no trabalho ideal, você cria um alfabeto novo para uma interpretação nova. Uma voz única.
Pense que seria igual a montar um quarteto e você usar músicos que não falam a mesma língua entre si, ou que não combinam em estilos musicais. Se você criar os músicos do zero, o trabalho terá sua própria voz, sonoridade e espírito.

Estudos da fonte
O que você diria que faz essa capa funcionar, que faz ela ser o que é?
PI:Capas acabam sendo sempre um processo em grupo. Existem tantas pessoas que colaboram e trabalham para fazer do resultado final o melhor possível que muitas vezes não recebem seu devido crédito.
No processo, tudo conta. A liberdade (e confiança) com qual a Aleph me dá na criação. O investimento no acabamento, nos pequenos detalhes. O posicionamento do lançamento, o timing, as mídias sociais. Tudo isso conta e algumas vezes fica difícil de quantificar.


PI: Acho importante falar sobre minha primeira conversa com a Aleph, quando concordamos que as capas devem ser clássicas. Clássicos no sentido que historias como Star Wars, Alien e Jurassic Park são, hoje, os novos clássicos.
Suas capas devem estar a altura do que estas histórias e narrativas representam para nós, que crescemos dentro desses universos. Eles merecem ser tratadas de igual para igual com Nabokov, Carver e Hemingway.
É uma nova era e só não vê quem não quer (ou quem está velho ;-)


Pedro Inoue, 38, é artista e designer gráfico. Já expôs seu trabalho no Japão, Coréia, Inglaterra e França. Comercialmente já colaborou com David Bowie, Damien Hirst & Ryuichi Sakamoto. É diretor criativo da revista canadense Adbusters desde 2010. Mora e trabalha em São Paulo, Brasil.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Brasileiros no exterior (8)

Algumas capas de edições estrangeiras de autores brasileiros.

Areia nos dentes, de Antônio Xerxenesky, edição francesa pela Asphalte (2015)

Dias perfeitos, de Raphael Montes. Edição hardcover norte-americana pela Penguin (2015).
Breve espaço entre cor e sombra, de Cristovão Tezza, edição americana pela AmazonCrossing (2014) 
1808, de Laurentino Gomes. 10a. edição hardcover americana pela Lyon Press (2013) 
Habitante Irreal, de Paulo Scott. Edição americana por An Other Stories (2014).





quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Só faltou o título


Só faltou o título
Autor: Reginaldo Pujol Filho
Editora: Record
Capa: Samir Machado de Machado
Fontes: Helvetica Neue e Caslon

Só faltou o título, primeiro romance do escritor gaúcho Reginaldo Pujol Filho, versa sobre Edmundo, um revisor freelance com pretensões de se tornar escritor, amargurado pela falta de respostas que recebe de editoras sobre os originais que envia, e que destila seu amargor contra tudo e contra todos - editores, escritores, críticos e até a própria editora que lança o livro - a Record.



Trabalhamos em cima de algumas idéias, como o vício do protagonista em Epocler, o seu próprio trabalho de revisor e, a idéia que pareceu mais promissora desde o começo, as caixas de livros que Edmundo recebe em casa, e que vão se acumulando até formarem uma parede claustrofóbica. Dentro dessa idéia, em trocas de email com o pessoal da editora, pedi que me mandassem fotos de como eram as próprias caixas de livros usadas na editora Record, uma vez que a própria editora está presente no livro.

Tenho um método, que só funciona quando o autor mora na mesma cidade, que é de tomar um café com ele dentro de alguma livraria, onde vamos trocando idéias e já separando das prateleiras algumas capas que achamos que tem relação com o que temos em mente. Uma pergunta que sempre faço é: quando escrevia e imaginava o livro pronto, que cor ou impressão geral imaginava que o livro teria? No caso, o Reginaldo foi enfático: um tom alaranjado, de papelão ou papel velho.


Dentro dessa idéia, nos agradou as implicações metalínguisticas, e evoluimos de uma primeira versão, onde havia somente uma pequena pilha de caixas, para uma verdadeira parede de caixas que dão conta da claustrofobia literária do persoangem.

Uma segunda questão era deixar claro que o título do livro fosse "Só faltou o título", e não "Cuidado: Livros", questão resolvida com o título aplicado dentro de um box branco e neutro sobreposto à montagem. E, claro, em todas as caixas empilhadas, há um elemento ausente: faltaram os títulos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Wes Anderson Collection: The Grand Budapest Hotel

Sim, existe um belíssimo coffee table book de Grande Hotel Budapeste, que obviamente custa um rim e um fígado. O livro dá continuidade à outro, anterior, entitulado de The Wes Anderson Collection. Contudo, não é possível continuarmos falando de Grande Hotel Budapeste (ou sequer pensar no filme) sem dar o play na música abaixo:



Ok agora podemos continuar: abaixo vão algumas imagens do livro (clique para ampliar).

Capa


Guardas





Contracapa




sexta-feira, 2 de outubro de 2015

BFI Film Classics (3)

A série de monografias editadas pelo British Film Institute sobre clássicos do cinema ganha uma nova leva, agora focada em filmes clássicos de ficção científica.


A Guerra dos Mundos (1953), de Byron Hoskins, por Barry Forshaw.
Capa de Graham Humpreys. Ilustração pintada com tinta guache sobre aquarela. Segundo o designer, "há uma certa imprevisibilidade nas marcas e texturas, como se fosse a pigmentação da pele de um alienígena. Eu quis colocar uma luz verde sobre os humanos, por ser a cor padrão de alienígenas e eu queria que os humanos parecessem alienígenas aqui. Mantive cores primárias para emular as cores do Technicolor".


Dr. Fantástico, ou Como parei de me preocupar e passei a amar a bomba (1964), de Stanley Kubrick, por Peter Kramer.
Capa por Marian Batnjes. "É a insanidade da guerra fria desnudada na sua simplificidade absoluta. Bombas apontando umas para as outras como motivo principal, na loucura espiral da guerra total. Comecei num esboço a caneta, e a ilustração foi criada no Illustrator".


Solaris (1972), de Andrey Tarkovsky, por Mark Bould
Capa de Matt Shlian. "Eu queria uma peça que refletisse a superfície do planeta, algo inquieto e ondulante, com uma ponta de tensão. A peça foi criada por computador e montada com papel".


Uma Sepultura na Eternidade (1967), de Roy Ward Baker, por Kim Newman.
Capa por Nathanael Marsh. "Usei a janela vitral para recontar os eventos do filme como se fossem um registro antigo e folclórico, o que conecta com os temas religiosos do filme. Foi criado de modo inteiramente digital, usando um tablet para o rascunho geral e completando com Photoshop e Illustrator. Gosto do modo com a perspectiva se distorce como numa lente panorâmica, usei este conceito para encaixar todos os elementos dentro de círculos radiais".


Akira (1988), de Katsuhiro Otomo, por Michelle Le Blanc e Colin Odell.
Capa por Samanta Holmlund."Comparada com as outras animações de sua época, Akira tinha angulos e movimentos mais dinâmicos e cores mais fortes. No meu design, busquei essa técnica para capturar o clima do filme. Para criar a arte fiz os esboços no Photoshop e então usei diversas texturas para dar uma aparência mais orgânica à arte final".


Alien, o 8º passageiro (1979), de Ridley Scott, por Roger Luckhurst,
Capa por Marta Lech. "A imagem simples e escura lembra um fantasma misterioso flutuando sobre o horizonte, mas também a foto em raio-X de um organismo sujeito à um exame científico. Usei a técnica de pintar com pigmento branco sobre papel escuro. Camadas transparentes e sobrepostas de tinta formam um padrão complexo de traçados suaves e sugerem um contexto alienígena, perfeito para ilustrar as características orgânicas e futuristas do design de H. R. Giger".


Brazil, o filme (1985), de Terry Gilliam, por Paul McAuley.
Capa por Peter Strain. "Minha idéia se baseia nas primeiras cenas de sonho de Sam, onde os prédios brotam e destroem a paisagem natural, contudo, escolhi usar gabinetes ao invés de edifícios, para retratar o tema de ordem e controle, que pode desumanizar o mundo. Fiz os esboços iniciais com lápis e então desenhei cada segmento individualmente. Então escaneei no Photoshop, onde adicionei cor e algumas sugestões de textura".


Corrida Silenciosa (1971), de Douglas Trumbull, por Mark Kermode.
Capa por Olly Moss.


Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004) de Michel Gondry, por Andrew M. Butler.
Capa por Patrícia Derks. "Eu coleciono imagens e as traduzo para meu próprio estilo usando as cores de uma forma inusitada. A capa usa meu estilo habitual e se baseia no visual da personagem de Kate Winslet, Clementine. Minha arte é o resultado de horas de pesquisa, quando então pego meus pincéis, e as obras são pintadas rapidamente com meu meio favorito, tinta a óleo, e sempre contém um elemento de surpresa".

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