terça-feira, 9 de março de 2010

Meus olhos, meus olhos...!

Nem só de bons trabalhos se faz um olhar crítico sobre qualquer coisa. Falar de mediocridades – seja o assunto um filme, um livro ou as capas desses – é fácil, as prateleiras estão cheias de exemplos assim. Mas um trabalho ruim, ruim mesmo, me atrai os olhos tanto quanto um trabalho muito bom. Talvez porquê seja possível visualizar com facilidade todas as escolhas que deram errado, ou talvez seja por uma atração pós-moderna pelo camp e pelo mau-gosto. Susan Sontag, conforme citada pelo Umberto Eco no seu História da Feiúra, defendia o apreço ao camp como uma forma de dandismo.
“Assim como o dandy era, no sec. XIX, o preposto do aristocrático nas questões de cultura, assim o Camp é o dandismo contemporâneo. É uma solução para o problema de como ser dandy na era da cultura de massa. Mas enquanto o dandy buscava sensações raras ainda não profanadas pelo apreço das massas, o entendido de Camp se realiza nos prazeres mais rudes e mais comuns, nas artes de massa (...) o entendido Camp cheira o fedor e se vangloria de ter um estômago forte”.

Ah, o elitismo pedante! Essa explicação acima é uma boa saída de emergência retórica para essas capas, caso o autor seja intimado ao tribunal estético do juizo final.
Então, vamos aos nossos pinguins de geladeira.


Não é difícil dizer o que deu errado aqui (é bem fácil, na realidade). Difícil é dizer se alguma coisa deu certo. O grande cabeção fantasma que flutua, literalmente, entre o mar e o penhasco, talvez tenha alguma relação com a história, sabe-se lá ("Siimbaaa!"). O efeito que tentou dar um ar meio pintura pra foto (ou disfarçar a baixa resolução, vá saber?), e ficou uma coisa meio híbrida e bizarra. Não vou em aprofundar muito na questão, porque imagino que por trás dessa capa houve alguém trabalhando com uma intenção real de estar fazendo algo bonito e, infelizmente, essa pessoa errou em tudo.

Machado de Assis encontra o fúcsia
A Martin Claret, como editora, é um caso interessante. Publica edições cujas traduções geralmente são plágios, apenas alterando as primeiras linhas da primeira página e atribuindo o trabalho a um tradutor que ninguém nunca viu em pessoa. Mas questões legais à parte, não existe tribunal para violações do bom senso, e somente assim se justifique que se tenha usado toda a cota de ciano e fúcsia permitida na vida de um designer.


Quando Nietzsche chorou
Abstraindo a ilustração new-age de feira de artesanato, ainda há a escolha infeliz de título em versalete com nome do autor em itálico (não há nada de errado com isso, em príncipio – vamos tentar não ser dogmáticos –, exceto que aqui não funcionou, e um amigo revisor sempre me atenta ao detalhe de que título não se escreve mais com iniciais maiúsculas em cada palavra), e a distribuição pobre dos elementos pela página. Como padrão de capas para uma coleção, consegue o feito de fazer com que qualquer livro – de Nietzche a Robinso Crusoé – pareça saído de uma coleção de romances baratos para solteironas (diga-se de passagem, as coleções Bianca, Sabrina e Júlia possuem ilustrações infinitamente melhores que essas). Ok, falar mal de uma capa da Martin Claret é praticamente como bater em quem já está caído, mas, tendo ela se estabelecido como um benchmark na área de mau gosto em design, é um caso digno de nota.


P.S.: Se alguém tiver sugestões de capas que nos enchem de vergonha alheia, deixem aí a sugestão.

9 comentários:

Daniel Braga Lee disse...

Bah, de fato, as capas da Martin Claret são uma pior que a outra.

Sugestão de pauta aqui pro blog: dê uma olhada nas capas de uma coleção que circulava décadas atrás, chamada "Biblioteca das Moças". Apesar de as capas fazerem jus ao nome, acho interessantes em termos de estilo.

Grande abraço!

Antonio C S Xerxenesky disse...

A pior, pior, PIOR, PIOOOOR capa da minha estante é do "Bom Crioulo", romance brazuca-homossexual-interracial sobre um marinheiro loirinho e um afro-descendente. OK, é difícil fazer uma capa para esse conteúdo, mas tem que ver a da Martin Claret para ele...

Anônimo disse...

maU gosto. Oposição ao BOM gosto.
:)

Tiago Lobo disse...

Bah, essas capas são quase bonitas perto das que eu achei:

Vingança de Sangue
http://3.bp.blogspot.com/_MvAtYyfUgWM/SxMAieWQibI/AAAAAAAACug/QBhg0lycuMY/s1600/Capa+livro+p+o+blog+Criaturas+menor+2.jpg

A capa do livro parece uma fotografia adolescente tirada de sites como Deviantart. E aquela moldura?

Além da Terra do Gelo
http://api.ning.com/files/npZMocVxIxhM0Zr57KraLSJZ-T5ktjk84tdemnF3ObkzmY4nuoK0ji3e4DG0JFwpAAtj9c-1FpZ1lXWQgjhDmF1ruVBlRrX8/Almdaterradogelocapa.jpg

Parece ilustração feita com giz de cera, impresso em gráfica rápida com verniz brilho. E não dá pra entender o "fantasma" pegando fogo no meio do gelo.

O Vale dos Elfos 1: o caminho para a montanha do grande mago ancião (isso é o título do livro)

http://2.bp.blogspot.com/_xEQk-5aEqbs/SYBXfs9lzfI/AAAAAAAAAXA/axZQG6zM0_s/s400/capa+oficial.jpg

O capista conseguiu destruir uma arte que poderia ser bacana. A composição lembra muito mais um trash ( beeeeeem trash) do Drácula do que qualquer coisa ligado a elfos.

Sem dúvida a pior capa que eu já vi.

Bitcherry disse...

Um nome: André Vianco.

Unknown disse...

Paz e bem!

Pior que as capas da Martin Claret
são seus plágios tradutórios.

Já chegou a traduzir Fernando Pessoa para o portugês!

Cf mais no blog
Não Gosto de Plágio
http://naogostodeplagio.blogspot.com
mantido pela tradutora
Denise Bottmann

Jorge Leberg disse...

Não há capas piores que as daqueles livros de Sabrina e afins, (sub)literatura da pior qualidade. Um caso em que julgar o livro pela capa é totalmente justificável, casamento perfeito entre estética da capa e da obra, de um mau gosto/kitsch profundo. Essa primeira arrolada me lembrou um pouco tais capas.

As capas da Martin Claret geralmente são ridículas (a de Alice no País dos Espelhos, então, é o cúmulo do kitsch), mas compro os livros da editora, a despeito disso e dos plágios, por serem mais baratos, abaixo da média dos mercados editorial e varejista, que sangram sempre que podem nossos bolsos bibliofágicos até os últimos estertores. Não vou ser hipócrita e dizer "abaixo a Martin Claret!" aqui, mas simpatizo com a causa de Denise Bottman, até porque ela foi alvo de um processo judicial praticamente repressor da liberdade de expressão e de ação contestadora por parte da editora, algo inaceitável num país que se diz democrático.

Mary C. Müller disse...

Como escritora e designer, me deparo direto com capas dignas de nota. Até pensei em fazer o blog: Piores capas do mundo, mas eu sou boazinha demais para isso. Vou passar o link de algumas capas que acho que merecem um prêmio vergonha alheia.

Essa, deve ser a pior capa do mundo - http://3.bp.blogspot.com/_MvAtYyfUgWM/SxMAieWQibI/AAAAAAAACug/QBhg0lycuMY/s1600/Capa+livro+p+o+blog+Criaturas+menor+2.jpg

as capas da editora Novo século também desanimam. O autor André Vianco tem capas muuuuito ruins. Todas no estilo Cabeção fantasmagórico flutuante. - http://livrosgratis.net/upload/capas/bento-andre-vianco.jpg

http://livrosgratis.net/upload/capas/o-vampiro-rei-vol-1-andre-vianco.jpg

http://livrosgratis.net/upload/capas/o-vampiro-rei-vol-2-andre-vianco.jpg

http://tatico.files.wordpress.com/2009/08/vianco-tdn2.jpg

Samir Machado disse...

À parte meu preconceito com histórias de vampiros, essas capas dos livros do André Vianco sempre me chamaram a atenção pelos motivos errados. Mas, ele tendo publicado tantos livros, imagino que deve ter muitos fãs, e vou evitar falar dessas capas pra não gerar uma onda de ódio vampírica - ainda mais que esse troço tá na moda.

Mas aquele Vingança de Sangue que apontaram antes, aquilo alí não tem explicação terrena que justifique.

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