Design por Kako
Autor: Samir Machado de Machado
Designer: Kako
Editora: Todavia
Fonte: Pinstripe Limo (no título) e Aerovias Brasil (no nome do autor).
Lançado pela Todavia em junho de 2018, Tupinilândia é um romance de aventura sobre a abertura política brasileira nos anos 80, sobre a construção de um faraônico parque de diversões no meio da selva amazônica, no Pará. Durante um final de semana de testes, o parque é atacado por um grupo militar insatisfeito com a abertura política, o que supostamente provoca seu fechamento. Trinta anos depois, uma equipe de arqueólogos descobre nas ruínas do parque uma comunidade isolada que não sabe que a ditadura e a Guerra Fria já acabaram.
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Algumas referêncais de composição sugeridas pelo autor. |
"O livro é uma cornucópia de referências e memórias que este quarentão quase morreu de nostalgia também", diz o ilustrador paulista Kako. Responsável pelas capas das edições de
Edgar Alan Poe lançadas pela Companhia das Letras, Kako fez também pôsteres para a Mondo - especificamente um poster variante de
Jurassic Park que brilha no escuro (clique aqui para ver).
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Referências de cores e elementos para a capa sugeridos pelo autor. |
"Os detalhes na pesquisa do autor me ajudaram muito à desenvolver os detalhes para a capa. A única coisa é que era tanta informação que eu passei um bom tempo estudando arquitetura, arte marajoara, quadrinhos dos anos 80, aerotrens de Porto Alegre, Veríssimo, Carl Banks, Canini, posters norte coreanos, modernismo, o relógio do gitton, os jipes do Gurgel… Foi tanta coisa que realmente quase fiquei louco!!!"
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Página do sketchbook de Kako, com os estudos para a capa |
Como foi o processo criativo para a criação dessa capa?
Tudo começa pelo livro. Para toda capa que faço, eu preciso da história como munição. Sem ela, não consigo estabelecer o que será o produto final, se será uma capa conceitual ou literal, o "mood", a tipografia, etc. É no passar de parágrafo para parágrafo que vou achando os portais de criação para cada possível capa, e de capítulo em capítulo vou refinando as ideias e achando os limites de cada uma.
No caso do Tupinilândia foi um pouco diferente. Quando sentei-me com Ciça na primeira reunião, eu já havia recebido um breve briefing e algumas imagens de referência, algumas delas do meu próprio trabalho. O mood "Jurassic Park" era claro. E neste primeiro encontro, rabiscando uma coisa ou outra durante a conversa, eu achei a semente do que seria nossa capa. Havia a ideia da bandeira, mas ainda estava vaga. E precisava da validação com a própria história.
Conforme lia o livro, fui refinando a ideia, sempre dando uma pausa para fazer minhas anotações, rabiscos e pesquisa. Existe este processo de entrar e sair da imersão. Quando se pensa em um produto, acredito que preciso fazer esta pausa para não me distanciar muito do objetivo. Este livro estará numa gôndola de uma livraria com muitas outras capas e é preciso equilibrar a expectativa de todos, seja cliente, autor e até você mesmo. O "estado criativo desenfreado" deixo apenas para meu trabalho pessoal.
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Detalhes da ilustração |
A semente tomou uma forma primordial de bandeira do Brasil como composição básica já com um início de paleta cromática. Havia a perspectiva da floresta, o por do sol amarelado dando lugar ao céu estrelado. O parque tomava forma conforme lia o livro. Eu não queria que fosse realista, queria uma "textura", uma composição de cor sobre cor onde a cada plano fosse revelada a ideia utópica de um Brasil perfeito, mas que este estivesse longe, no horizonte, no sonho. Nessa construção queria que a bandeira se perdesse, que ficasse escondida para uma segunda leitura pelo olhar, que fosse mais facilmente revelada caso o leitor abrisse a orelha e assim enxergasse o losango amarelo com mais clareza.
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A ilustração da capa, aberta, sugere a bandeira do Brasil (clique para ampliar). |
Houve alguma dificuldade específica?
Nesse caso não, estava bem claro o que eu queria. Para mim esta foi uma das capas mais diretas que já fiz pois apesar de apresentar uma ou duas ideias a mais, o conceito da bandeira era muito poderoso pra se deixar de lado.
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Grafismos inspirados em arte marajoara compõem o verso da capa e contracapa. |
O que você acredita que faça a capa do livro funcionar, e ser o que ela é?
Eu costumo fazer capas que funcionem duas vezes. A primeira vez quero te pegar pela estética. Quero que a pessoa veja o livro na gôndola ou prateleira da livraria e tenha a vontade de ir até o livro. Quero que a pessoa seja atraída para perto e que depois perceba os detalhes, quero ver ela esticar o braço e pegar o livro pra ver mais de perto ainda. A construção do contraste nessa capa foi pensada com essa finalidade, principalmente nos planos cromáticos do parque. Muitas capas se perdem pela falta de contraste, pela não proteção dos elementos gráficos no todo. Grids são fundamentais e eu até acabo sendo meio conservador, pois acredito que a luta pelo lugar ao sol numa livraria é algo muito sério.
A segunda vez eu quero te pegar depois que você leu o livro. Aí é um diálogo meu e seu onde eu te dei as pistas e quero que você solucione. Quero que você descubra por onde passei para chegar até essa imagem. Gosto da ideia de que o leitor tenha essa satisfação de resolver um puzzle. Esta sensação é uma recompensa muito prazerosa.
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A versão completa da capa (clique para ampliar) |
Kako é considerado hoje como um dos 100 ilustradores mais influentes do mercado internacional pela renomada editora alemã Taschen, Foi publicado nos mais importantes anuários de ilustração e design gráfico, como Communications Arts, Lurzer´s Archive 200 Best Illustrators Worldwide, AIAP American Illustration e Latin American Ilustración, Society of Illustrators, SPD, 3x3, Visual Arabia Design, sendo um dos primeiros estrangeiros a ser publicado no anuário japonês New Illustrators File. Seus trabalhos já conquistaram importantes prêmios na publicidade como o Leão de Ouro em Cannes e a Medalha de Ouro no Festival El Ojo de Iberoamérica e foram expostos em museus e galerias de vários países, além da sede da ONU em NY. Hoje trabalha como Production Designer na produtora Arvore Immersive Experiences desenvolvendo jogos e experiências em realidade virtual.