terça-feira, 15 de março de 2011

A luz da noite

Design de Rafael Nobre


A luz da noite
Autora: Edna O'Brian
Designer: Rafael Nobre
Editora: Record
Fonte: Mrs Eaves
Acabamento: verniz localizado

Como você se tornou um designer de livros?
Na faculdade de design me interessei bastante pelos processos de impressão e acabamentos. Decidi procurar um estágio em que pudesse aprender mais sobre o assunto. Então, vi na faculdade um cartaz sobre a oportunidade de estágio na Editora Record, cujo trabalho era fazer capas de livro, convites e cartazes. Preparei um portfolio, e felizmente fui contratado. Lá, aprendi bastante sobre o design de livros e fui me interessando cada dia mais por essa área. Atualmente, a maior parte dos trabalhos que realizo está relacionada aos livros.

O que você acredita que faz de uma capa de livro uma boa capa de livro?
Acredito que uma boa capa de livro é aquela que consiga ser considerada como boa por todos aqueles que estão envolvidos no projeto. Ou seja, o designer, o autor (quando ainda vivo), o editor e os leitores. O projeto de uma capa envolve muitas pessoas e sua aprovação e resultado não depende apenas do designer. Por isso, quando o designer consegue propor uma solução gráfica que agrade estes diferentes pontos de vista do livro, inclusive o seu, considero o trabalho bem-sucedido. O design é um trabalho fundamentalmente em equipe.


Como você chegou nas fotos e ilustrações utilizadas, e qual a origem?

Para dizer como cheguei as imagens é preciso falar um pouco sobre a história do livro. O romance é sobre Dilly que aos 78 anos teve de sair de sua propriedade rural no interior da Irlanda para um hospital em Dublin, onde luta contra o câncer. Ela espera resgatar a relação com a filha Eleonora e enquanto a aguarda, Dilly relembra a própria trajetória: a viagem de navio para os EUA e a passagem por Nova Iorque em 1920. Eleonora chega para visitar a mãe e, parte depressa. Na correria, esquece seu diário, com revelações que mudarão o rumo da história.

Assim, as fotos foram tiradas de elementos da história como a paisagem rural irlandesa na parte superior (banco de imagens) e o diário na parte inferior (foto minha). A ilustração que fiz expressa a tentativa das personagens de restabelecerem contato.


Quais as fontes utilizadas na capa, e porquê você escolheu ela?
Apenas a Mrs Eaves criada em 1996 pela designer Zuzana Licko inspirada na Baskerville. A escolhi por ela ter um desenho contemporâneo e ao mesmo tempo clássico.


Como foi o processo criativo para esta capa? Tem uma coisa que achei muito bacana de sobreposições de elementos, como você chegou nessa proposta? Houve um direcionamento específico que levou ao resultado final?
Não houve um direcionamento por parte da editora para esta capa. Cheguei as sobreposições de imagens através de uma característica da autora “O'Brien faz desvios, desconstrói regras, altera o rumo e o ritmo da história” (do texto de orelha). Inicialmente, pensei em usar na capa a imagem de um diário e uma carta (ao longo do livro há cartas de Dilly para sua filha). Para isso, tirei algumas fotos. Depois de alguns estudos decidi fragmentar a imagem que havia fotografado. Usei a carta de modo mais sutil na quarta capa. A capa, lombada e quarta capa são divididas ao meio com a intenção de expressar a divisão temporal, presente-passado e a distância entre mãe e filha. Neste trabalho apresentei apenas um layout que foi aprovado sem alterações pela editora.

Rafael Nobre graduou-se em design gráfico pela EBA/UFRJ em 2010 e iniciou sua carreira no design editorial como estagiário no departamento de design do Grupo Editorial Record em 2005. Dirige seu próprio estúdio desde 2007 e trabalha como autônomo para diversas editoras.

2 comentários:

maikel rosa disse...

linda, linda

sophia chassot disse...

adoro quando tem essas entrevistas sobre o processo de criação!

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