Tendo uma boa imagem, sair do caminho e deixar que ela fale sozinha é uma opção estética bacana. O trabalho acaba sendo mais sutil - escolha da fonte e posicionamento do lettering, o tipo de trabalho que passa despercebido e não é valorizado (e não faltariam exemplos, principalmente em livros de arte, de trabalhos onde o capista não soube aproveitar a imagem que tinha em mãos e atrapalhou tudo simplesmente por querer colocar elementos onde seria melhor não fazer nada).
Abaixo, três capas que me agradam muito pela decisão feliz na escolha da imagem, e na decisão de não atrapalhá-la.
O outono da Idade Média, de Johan Huizinga (Cosac Naify). Projeto gráfico de Gustavo Marchetti,
Hitler, de Ian Kershaw (Companhia das Letras). Capa de Kiko Farkas e Mateus Valadares / Máquina Estúdio (aqui o tratamento não é tão mínimo assim, pois temos o detalhe da foto quebrada, que acrescenta uma dose extra de impacto na imagem, mas de um modo que não parece um efeito sobreposto à ela, mas que faz parte dela. E a foto em si - Hitler ao lado do cão Wolf - já é um bocado sinistra e impactante).
[atualizando] Daniel Justi diz, nos comentários, que não se trata de um tratamento sobre a foto: quebrá-la era a forma como Hitler reprovava suas fotos pessoais. O que, concordo, deixa ainda mais interessante que sua biografia tenha justamente essa foto na capa.
[atualizando(2)] Tivesse sido eu mais atento, teria visto antes esse ótimo post no blog da Companhia das Letras, explicando o processo de criação da capa, os detalhes da foto quebrada, e incluindo uma opção não utilizada da capa, mais gráfica.
O grande jogo de Billy Phelan, de William Kenndy
Esse é livro é ainda mais bonito ao vivo, não apenas por ser em capa-dura, mas também pelo efeito do relevo em zigue-zague. (Não encontrei a referência do nome do capista, assim que souber, atualizo aqui).
Irmãos, de Yu Hua, capa de Mayumi Okuyama. É ainda mais bonita no livro físico, onde o título é impresso com uma tinta levemente fosforescente.
9 comentários:
Belo post, Samir!
A capa do “O outono da Idade Média” é realmente ótima.
Sobre a capa do Hitler, o detalhe da foto quebrada não é um tratamento. Essa era a forma como o próprio Hitler reprovava suas fotos (quebrando mesmo), o que torna essa imagem ainda mais interessante e provocativa.
Um abraço
Eu ia dizer exatamente o que o Justi já informou. A foto foi feita com a tecnologia de chapas da fotografia da época, e a chapa foi quebrada por não ter sido aprovada pela propaganda oficial - o livro, dentro, reproduz a chapa quebrada em um de seus cadernos de imagens.
Oi, Samir
Lá no Blog da Companhia nós fizemos um post sobre a capa do "Hitler": http://www.blogdacompanhia.com.br/2010/12/a-chapa-quebrada/
Diana: nossa, deixei passar esse post no blog da Companhia. Já corrigi (mais uma vez) o post aqui. Valeu pelo toque.
Mais uma correção para o Hitler: o design é de Kiko Farkas e Mateus Valadares. As capas feitas pelo Máquina Estúdio são sempre uma parceria entre um designer (eu ou o Mateus) e o Kiko.
Abs
Oi Thiago,
Post mais mal-pesquisado da minha parte EVER. Valeu pelo toque, já corrigi.
Nos livros da Cosac Naify os capistas são os autores do projetos gráfico (se não, são creditados como tal).
Esse tipo de capa, que parece exigir uma impressão de muito maior qualidade pra ficar convincente, é o tipo mais bonito, acho.
Belíssmas todas.
Poisé, Leonardo, esse tipo de capa geralmente acompanha uma produção gráfica bacana - papel bom, efeitos gráficos diferenciados - que são o tipo de coisa que mantém o livro enquanto objeto físico atraente.
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